Já me perguntaram sobre como enfrentar a solidão de estar em um país onde você está a milhares de quilômetros de distância do parente mais perto, vir sem nenhum amigo e principalmente sem saber (bem) a língua nativa daquele país.
Eu não só me mudei para um país isolado, mas também fiz minha mudança em Janeiro de 2020, dias antes de estourar uma pandemia mundial onde o planeta inteiro entraria em uma quarentena sem data para sair (e ainda está, em muito lugares, enquanto escrevo esse post).
Nós chegamos em solo Japonês no dia 27 de Janeiro de 2020, tivemos um enorme suporte da empresa que contratou o Diogo (meu marido), e todo esse longo processo de mudança você pode conferir aqui, por que hoje irei contar algo mais relacionado a sentimentos.
Como contei aqui em cima, não vim totalmente sozinha para o Japão, meu marido passou para uma vaga e viemos juntos, com muita coragem e nervosismo. Tive esse privilégio de ter um suporte emocional (e ele idem) durante todo o processo de mudança, que por mais que tenha sido bem amenizado com toda a infraestrutura que a empresa nos proporcionou, continua sendo algo muito estressante.
Nós guardamos a notícia sobre a mudança por algum tempo, soltando a "bomba" para os amigos e familiares em doses homeopáticas, mas mesmo assim a ficha demorou um tempo para cair. Para ser 100% sincera, faz só pouco tempo que realmente me dei por mim pensando "é, realmente estou morando em Tokyo no Japão".
E esse clique aconteceu depois que estabelecemos uma rotina dentro de casa, aquela bem caseira mesmo, acordar, fazer exercício, banho, sentar pra trabalhar, pausa pro almoço, talvez ir o mercado, continuar trabalhando, parar pra jantar, estudar. Nesse ponto, depois de alguns meses conturbados desviando de focos de contaminação, tentando achar um apartamento, mobiliando esse apartamento, decorando, até finalmente cairmos em uma rotina, demoraram meses.
E foi quando bateu a sensação de que estamos praticamente sozinhos. Que se quisermos visitar nossos amigos e família, teremos que pegar um voo de quase 30 horas e enfrentar 12 horas de fuso para termos alguns dias com eles. Que a nossa casa agora é aqui em Tokyo.
Morar no Japão traz uma sensação única para quem é estrangeiro que acho que poucos países vão te trazer. Você será sempre um estrangeiro. Provavelmente diversos países da Ásia devem trazer essa mesma sensação, mas calma, não estou falando de preconceito ou Xenofobia com estrangeiros, estou simplesmente falando da sensação. E se você não conseguir abstrair isso, você irá sofrer de fortes crises de ansiedade.
A população Asiática de uma maneira geral é pouco miscigenada, diferente de lugares como Europa, America do Norte, America do sul, onde você ira encontrar pessoas de diferentes tons de cabelo, pele, traços e tudo isso é normal. Aqui qualquer pessoa que saia do usual de "padrão asiático" já chama um pouco mais de atenção, não só dos próprios japoneses, mas também de nós estrangeiros. Eu mesma quando avisto alguém "não asiático" na rua é difícil que nossos olhares não se cruzem, eles nos olham e nos os olhamos, algo como "OLHA ALGUÉM QUE NEM EU!" passa na cabeça das duas pessoas.
Se você quiser chamar ainda mais atenção como estrangeiro, fale japonês, não, isso não é mal visto, eles por sinal ficam admirados quando nos veem falando japonês.
Então acredito que, pra mim, o sentimento predominante por enquanto não seja de solidão, ou de afastamento, mas sim esse sentimento de saber que eu nunca irei conseguir me misturar a população local, por mais que você fale japonês fluente, more aqui a 10 ou 20 anos, se você não se parecer como eles, você pode sofrer desse sentimento. O caso é, aprender a abstrair os olhares e tentar se sentir o mais local possível.
Mas falando sobre o sentimento de solidão, são raros os momentos que esse sentimento chega, mas não diria que é o fato de me sentir só, afinal estou aqui com o Diogo e ele comigo, então nos ajudamos, nos divertimos juntos, aprendemos juntos. Mas existe aquele famoso "Fear of missing out", o medo de achar que está perdendo coisas importantes dos seus amigos e familiares, de que não está participando, de estar ficando para trás.
Esse sentimento bateu algumas vezes na porta da minha cabeça, mas uma simples troca de mensagens, uma vídeo chamada, um jogo online, resolve tudo isso. Seus amigos de verdade nunca deixaram de ser seus amigos, isso ficou claro. E fica toda vez que converso com eles.
Apesar de todos esses sentimentos conflitantes, não vejo saindo daqui tão cedo. Acredito que fiz a escolha certa e uma das melhores escolhas que fiz ate agora. Me sinto segura andando nas ruas, gosto de como as coisas funcionam, acordo de manhã todos os dias com saudades, mas com um sorriso no rosto.
Mas não tenham medo de tentar, experimentar, seguir em frente! Sigam seus sonhos, mesmo que vocês encontrem barreiras. Fiquem bem, fiquem seguros. Abraços.
Meus pais sempre me falam: "Nós poderemos te visitar alguma hora lá?" Bom, pelo menos vou poder vê-los de vez em quando, (se o dinheiro permitir), não vou sentir muita falta deles, mas deve acontecer aquele sentimento mesmo. Provavelmente eu vou sozinho.